17 de junio de 2011

Companheiras - Parte 1


Era noite quando ele chegava cansado da jornada ao apartamento escuro, onde o silêncio era majestade. Adentrava a sala desfazendo o nó da gravata, produzindo o máximo de ruído possível e lhe respondia o eco dos seus sapatos no assoalho.
Quase sempre, acendia todas as luzes, ligava a televisão enquanto comia vorazmente a pizza lambuzada de catchup, acompanhada de cerveja, olhando a tela sem dar muita atenção ao enredo. Logo, voltaria à cozinha para bombardear o estômago com qualquer coisa que lhe desse uma baita má-digestão. Pra depois queixar-se a quem?  
Numa dessas noites, após ter seguido sua rotina noturna, jogou a roupa num canto do quarto e dirigiu-se ao chuveiro, enquanto se lavava, observava a barriga proeminente. Porque tinha deixado de jogar futebol com os colegas? Quando já não tinha ninguém pra reclamar disso e os sábados sem nada pra fazer. Culpa daquela desgraçada! Tudo o que ela queria era afastá-lo dos amigos, que deixasse de fazer o que gostava para servir exclusivamente a ela.
E depois de mal-dizer mil vezes a ex-esposa, foi pra cama tentar se livrar das más lembranças e dormir. Não raro, levantaria sem sono pra ver algum programa sensacionalista ou conectar-se a um site de cybersexo. Virava a madrugada em bate-papos calientes que acabariam no prazer solitário. Só então pegava no sono ou o sono que o pegava de cheio, atrasando-o para o trabalho no dia seguinte.
Foi assim até seus olhos serem atraídos por aquela imagem em uma loja do Shopping, sempre que podia passava lá para vê-la, só faltava coragem, pior se tivesse outro interessado, tinha que chegar junto e logo, antes que alguém tomasse posse. Naquela noite, sonhou com ela. E no dia subseqüente, tudo se resolveu, do jeito que ele premeditara, ela era sua.
Entrou no quarto, ansioso, acendendo a luz... lá estava ela estirada na cama como a tinha deixado mais cedo: serena e calada. Sentia certo prazer em contemplá-la daquele jeito, era da maneira que ele sempre quisera. Sem muita dificuldade atirou pra longe o cinto e abriu o zíper, livrando-se da roupa em curto espaço de tempo. Feito uma fera faminta se lançou sobre ela, mergulhando profundo e, no desespero de ter passado por tanto tempo em abstinência a possuía, socando-lhe o membro bem forte. Se ao menos ela gemesse, gritasse... Mas, era tão cativa e isso lhe agradava tanto. O coração e o corpo eram uma coisa só, bombeando tudo quanto estivesse embaixo e ao redor dele. A cama iria agüentar? Nem importava, o prédio poderia ir a baixo, os vizinhos poderiam reclamar, alheio a qualquer conseqüência, o que ele queria era tê-la até acabar-se.
Não tardou muito, ambos jaziam lado a lado no leito, depois da batalha que faria de qualquer um vencedor e vencido ao mesmo tempo. A respiração ofegante, suor e sêmen ensopando a cama. Ele, após a desaceleração dos batimentos cardíacos, dormia. Enquanto ela ficava a velar-lhe o sono.
A excitação inicial foi virando obsessão, vício lascivo... já não saía com os amigos nem os convidava à sua casa, ela não deveria ser vista, era só sua, fora feita para ele. E qual não era sua sensação de liberdade.
Não era assim com Lilith, sua ex, que exigia mais tempo nas preliminares e se queixava do seu ronco. Lilith, não seria uma mulher de Atenas, era o oposto da sua nova companheira. Ela só pensava na sua carreira de executiva, em viagens, em seu ego. E ele? Estava sobrando mesmo naquele conto de 365 noites quase sem sexo. A traição não fora o pior delito... Foi ela quem quis ir embora, mas o marido assentiu prontamente... já que o único elo que poderia atá-los pra sempre fora lançado por sua genitora em algum fétido esgoto.
A vida desse homem, porém, ganhara novo sentido, tinha tranqüilidade, ninguém reclamava mais do assento do vaso sanitário respingado de urina. O apartamento tinha outro aspecto, tudo podia ficar pra depois, nada tinha urgência. A pia da cozinha estava pingando já fazia dias, mas isso não incomodava o sono dos amantes. Que ficasse assim, até que um dia ele tivesse paciência pra consertá-la.
Três meses naquela situação e ele começava a perceber que aquilo já não lhe bastava, ele queria mais, mais o quê? Tinha o sossego, se saciava no sexo e... Companhia? Alguém o disse certa vez que “o homem estava fadado a fazer escolhas”, sim, era verdade, ele a escolhera, tinha escolhido aquela vida, aquela rotina. Também sabia que tudo é efêmero, mas se assustou com a rapidez com que a sua paixão chegara ao fim...

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