31 de mayo de 2011

Vaga rosa



Sinto saudades e,
Olho para trás vagarosa...
Era só silêncio e absoluta escuridão.
Entre as frestas do tempo,
Esses instantes perdidos.
Ouço ruídos da rua,
Vaivens de veículos.
À janela do meu sossego
Aqui estou, nada espero...
...e o futuro é apenas uma porta entreaberta.



Ivana, 27 de mar/2011.

Desastre

Sob os escombros
Dos meus versos
Sonhos de um porvir
Que não virá
Jamais.

25 de mayo de 2011

Dupla flor


(eu também falo das flores)

Era, pois, aos olhos
uma orquídea rubra
Desabrochando-se ao toque das mãos tuas
Com quanta maciez
Suas pétalas rosáceas te alisam a púbis
E se abrem generosas
Para que sugues o seu néctar
E sem que esperes,
Flor carnívora se torna
Audaz, te aperta rigorosa
Dupla flor que de bela e suave
Sabe a néctar do amor
E se abala em paixões ardentes

Verônica  Campello.

Cúmplices


a Safo
Tu me entendes, amiga;
Sabes onde inicio
E  onde termino.
Tua língua tateia
Todo meu íntimo ser finito.
Não percamos mais tempo
Quero fugir contigo
Dos olhos que espreitam
E  condenam.
Na ilha de Lesbos
Oh, doce amiga!
Viveremos
 Sós.

Verônica  Campello, 25/05/2011.

22 de mayo de 2011

Lucidez

Aquelas lembranças?

Entulhos na memória!

A última ilusão

morrera engasgada

em champanhe barato.

No dia seguinte

o despertador chama:

- É dia de branco!


Ivana Oliveira

Triste partida

Um barco de papel navega

tranqüilo

Sob o olhar do menino

Sobre a lama

levado

por incertos ventos

 
Ivana Oliveira

18 de mayo de 2011

Assembléia dos Bichos

Ivana Oliveira, 14 de maio de 2011.



Era um tal de muu muuu, quá quá, cococó... Aqui, ali e acolá. E depois de algumas horas entre mugidos, grasnidos, cacarejos, relinchos e roncos, acontecia que na granja estava toda a bicharada convocada e comparecida para uma tal assembléia que em pratos limpos a situação colocaria.

De um lado vinha o Seu Galo de crista baixa, todo ofendido, reclamando que a fama de brigão que ganhara era apenas um mal-entendido.

Em seguida veio a sua esposa aprumando asinha, dizendo ser injusto o dito que quem é lelé da cuca tem cérebro de galinha.

E a amiga Dona Vaca foi logo se defendendo:

– Se dou leite de graça por que tanta gente chama o avarento de mão-de-vaca?

E num zurrado desgovernado gritou o Seu Burro muito irritado:

– Se tão belas manobras posso fazer e transporto cargas com tanto cuidado, por que dizem o meu nome a quem não é estudado?

– Pois é, companheiro! – disse outro quadrúpede, relinchando elegante. – Dizem tanta coisa injusta! Veja só o meu caso, mesmo eu sendo de fino trato, ao indivíduo grosseiro lhe dão o nome de cavalo!

– Eu também me queixo muito – disse o Seu Porco indignado – Pois tomo banho o dia inteiro e ainda falam pelos cotovelos que porco não tem asseio!

Logo chegou o Seu Pato com seu andar peculiar e foi logo resmungando a dupla fama, pois se pato é sinônimo de malandro para uns para outros é otário.

E o zunzunzum continuava... Até que se ouviu outra queixa, era o Senhor Sapo que de lá do lago coaxava:

– Canto bem que é uma beleza e sou famoso na literatura por ser beijado por uma princesa, mas ser sapo virou sinônimo de feiúra!

– Quanto a isso, meus amigos, eu não sofro preconceito, pois a fama a mim prestada faz jus à minha figura. Pois ao cara bonitão, ri-se as moças de plantão dizendo: “Uau, que gato!”

Enquanto o gato se exibia lambendo as patas todo prosa, latiu o cão de zombaria, dizendo que a fama que dele conhecia era outra história.

– Há gatos e gatos, minha gente! Dizem que à noite todos são pardos, pura balela! Pois esse gato que lhes fala é um gato de panela!

O comentário ao gato enfureceu e ele foi logo afiando as garras...

–Ora, procure o seu lugar. Isso aqui é coisa séria! Você se acha valentão e se diz melhor amigo do homem. Mas todo mundo se queixa que está difícil viver nesse mundo cão... e se ainda faz muxoxo, lembre-se que ninguém quer levar vida de cachorro!

Era uma zoada danada, ninguém mais se entendia. Todo mundo de algo tinha protestado, mas a nenhuma solução chegou porque a assembléia acabou numa briga de cão e gato!