30 de junio de 2011

Paradoja

Los ojos,
En pareja,
Lloran
La Soledad.

Ivana, 02.06.11

Bem te via

by Eduardo Amorim in: http://www.flickriver.com/photos/tags/bemtevi/interesting/

Uma bela manhã
te vi passar, menina,
balançando as tranças
e a doce ave com sua melodia:
Bem-te-vi... bem-te-vi.
Tu guardaste os teus sorrisos.
Eu servia os meus à bandeja.
O pássaro cantava em meu lugar:
Bem-te-vi, bem-te-vi...
E eu dizia: Que assim seja!
Que bem te via, aquele dia...
Hoje, na hora amiga da tarde
passeio pela relva,
Não há (en) canto, nem menina.
Me vejo cabisbaixo
e o meu  Bem-te-vi calado.

17 de junio de 2011

Companheiras - Parte 2


Já era sexta-feira, fim de expediente, ao bar! Era momento de engolir a angústia com um bom drink. O grilo falante da consciência, através de uma lucidez alcoólica, lhe mostrava a que ponto havia chegado a desgraça de um homem, a sua desgraça. E após esvaziar mais um copo, mirou-se nele, viu seu reflexo naquele vidro embaçado.
A noite, com ares de boemia, parecia cantar para ele: “Desilusão, desilusão, danço eu, dança você na dança da solidão...”. Enquanto ele ainda filosofava mais alguns minutos com o copo vazio e a sua triste sina. Aparentemente conformado, pagou a conta e zigzagueou  até o apartamento. Entrou cambaleando, com mais vontade que fragilidade física para cair, estar junto à sujeira que se acumulava no chão era o seu desejo e tendo entregado seu corpo, adormecera reduzido à pequenez dos germes.
O sol despontava lá fora, mas o apartamento não se contagiava com a luz, era no máximo penumbra... Um homem caído ao chão, acordava com a roupa amarrotada e os pés calçados tal como chegara na noite anterior. Olhou ao redor, os móveis o observavam de cima, o porta-retrato com a foto de formatura parecia condená-lo, com aquela mão estendida para frente em juramento. Não tinha coragem de levantar-se ante o olhar do garoto de bata preta no retrato. Seriam a mesma pessoa? 
A cabeça parecia ter dobrado de tamanho, certas figuras lhe rondavam a mente: a da mãe que não conhecera e a da ex-esposa que ele havia enxotado de casa. “Quem disse que a mulher é sagrada?” Perguntaria se alguém estivesse ali... Era, principalmente, por causa delas que se achava jogado no piso da sala, inerte. Se ele fosse uma delas teria quebrado a louça, teria chorado ou feito qualquer cena dramática em público, depois apareceria diabolicamente maquiada, sobre os saltos, como se nada tivesse acontecido. Mas ele tivera esse destino, o de silenciar a própria desgraça, qualquer demonstração de fraqueza seria a gota d’água.
De repente, começava a ter fúria, a fúria que o fazia levantar e entrar no quarto ameaçadoramente. Lá estava ela, tão sua, tão quieta, seria capaz de odiá-la algum dia? Só sabia que aquela ira existencial lhe dava mais vontade de possuí-la, ela não era imagem para adoração, era para ser tocada e maculada, segundo a vontade dele... Sim, ele a domesticara para isso, ela estava ali por esse motivo, começou dando-lhe tapas na cara, ela gostava, continuava feliz ali sentindo o peso do corpo dele e estremecendo a cada bofetada recebida. Ele cada vez mais feroz, socava o seu ódio dentro dela, agarrou-a pelo pescoço apertando-o, mas ela continuava sem reação... 
Dessa vez o prazer pedia o extremo, mais do que tudo que já tinha feito, qualquer sinal de razão havia desaparecido da sua face, a libido e o desejo de matar se confundiam. Ela não cedia às suas tentativas de enforcamento, o que lhe dava mais ódio, ela dava trabalho pra morrer, feito um joão-teimoso quando alguém tenta derrubá-lo. O homem levantou-se, pegou a tesoura na gaveta e deu-lhe uma estocada certeira no ventre. Nesse momento, ele entrou em erupção, derramando sobre o corpo estendido na cama a lava esbranquiçada. Ela simplesmente ria o seu riso já flácido de boneca inocente.

Companheiras - Parte 1


Era noite quando ele chegava cansado da jornada ao apartamento escuro, onde o silêncio era majestade. Adentrava a sala desfazendo o nó da gravata, produzindo o máximo de ruído possível e lhe respondia o eco dos seus sapatos no assoalho.
Quase sempre, acendia todas as luzes, ligava a televisão enquanto comia vorazmente a pizza lambuzada de catchup, acompanhada de cerveja, olhando a tela sem dar muita atenção ao enredo. Logo, voltaria à cozinha para bombardear o estômago com qualquer coisa que lhe desse uma baita má-digestão. Pra depois queixar-se a quem?  
Numa dessas noites, após ter seguido sua rotina noturna, jogou a roupa num canto do quarto e dirigiu-se ao chuveiro, enquanto se lavava, observava a barriga proeminente. Porque tinha deixado de jogar futebol com os colegas? Quando já não tinha ninguém pra reclamar disso e os sábados sem nada pra fazer. Culpa daquela desgraçada! Tudo o que ela queria era afastá-lo dos amigos, que deixasse de fazer o que gostava para servir exclusivamente a ela.
E depois de mal-dizer mil vezes a ex-esposa, foi pra cama tentar se livrar das más lembranças e dormir. Não raro, levantaria sem sono pra ver algum programa sensacionalista ou conectar-se a um site de cybersexo. Virava a madrugada em bate-papos calientes que acabariam no prazer solitário. Só então pegava no sono ou o sono que o pegava de cheio, atrasando-o para o trabalho no dia seguinte.
Foi assim até seus olhos serem atraídos por aquela imagem em uma loja do Shopping, sempre que podia passava lá para vê-la, só faltava coragem, pior se tivesse outro interessado, tinha que chegar junto e logo, antes que alguém tomasse posse. Naquela noite, sonhou com ela. E no dia subseqüente, tudo se resolveu, do jeito que ele premeditara, ela era sua.
Entrou no quarto, ansioso, acendendo a luz... lá estava ela estirada na cama como a tinha deixado mais cedo: serena e calada. Sentia certo prazer em contemplá-la daquele jeito, era da maneira que ele sempre quisera. Sem muita dificuldade atirou pra longe o cinto e abriu o zíper, livrando-se da roupa em curto espaço de tempo. Feito uma fera faminta se lançou sobre ela, mergulhando profundo e, no desespero de ter passado por tanto tempo em abstinência a possuía, socando-lhe o membro bem forte. Se ao menos ela gemesse, gritasse... Mas, era tão cativa e isso lhe agradava tanto. O coração e o corpo eram uma coisa só, bombeando tudo quanto estivesse embaixo e ao redor dele. A cama iria agüentar? Nem importava, o prédio poderia ir a baixo, os vizinhos poderiam reclamar, alheio a qualquer conseqüência, o que ele queria era tê-la até acabar-se.
Não tardou muito, ambos jaziam lado a lado no leito, depois da batalha que faria de qualquer um vencedor e vencido ao mesmo tempo. A respiração ofegante, suor e sêmen ensopando a cama. Ele, após a desaceleração dos batimentos cardíacos, dormia. Enquanto ela ficava a velar-lhe o sono.
A excitação inicial foi virando obsessão, vício lascivo... já não saía com os amigos nem os convidava à sua casa, ela não deveria ser vista, era só sua, fora feita para ele. E qual não era sua sensação de liberdade.
Não era assim com Lilith, sua ex, que exigia mais tempo nas preliminares e se queixava do seu ronco. Lilith, não seria uma mulher de Atenas, era o oposto da sua nova companheira. Ela só pensava na sua carreira de executiva, em viagens, em seu ego. E ele? Estava sobrando mesmo naquele conto de 365 noites quase sem sexo. A traição não fora o pior delito... Foi ela quem quis ir embora, mas o marido assentiu prontamente... já que o único elo que poderia atá-los pra sempre fora lançado por sua genitora em algum fétido esgoto.
A vida desse homem, porém, ganhara novo sentido, tinha tranqüilidade, ninguém reclamava mais do assento do vaso sanitário respingado de urina. O apartamento tinha outro aspecto, tudo podia ficar pra depois, nada tinha urgência. A pia da cozinha estava pingando já fazia dias, mas isso não incomodava o sono dos amantes. Que ficasse assim, até que um dia ele tivesse paciência pra consertá-la.
Três meses naquela situação e ele começava a perceber que aquilo já não lhe bastava, ele queria mais, mais o quê? Tinha o sossego, se saciava no sexo e... Companhia? Alguém o disse certa vez que “o homem estava fadado a fazer escolhas”, sim, era verdade, ele a escolhera, tinha escolhido aquela vida, aquela rotina. Também sabia que tudo é efêmero, mas se assustou com a rapidez com que a sua paixão chegara ao fim...

10 de junio de 2011

O Infeliz Passageiro Felisberto


Ivana Oliveira, 13/08/08.


            Era segunda-feira, precisava dizer que era o seu pior dia? Pois bem, saíra de casa sem tomar café e caminhava em direção ao ponto quase arrancando os paralelepípedos, a cara amarrada por trás daqueles bifocais, cujo detalhe das lentes parece uma risadinha. Mas, o dono, ao contrário, nunca ria a essa hora da manhã. Era assim que começava a rotina de Felisberto, morador da zona urbana de Feira de Santana, cujo estado de ânimo nunca fazia jus ao nome, principalmente quando tinha que pegar o ônibus. Onde fora condenado a passar algumas horinhas do seu dia, “esmagado, sufocado” – Como se imaginava ele, cada vez que pegava a condução para o trabalho ou de volta pra casa.
Aos domingos ia a pé ou de bicicleta ao supermercado ou qualquer lugar possível, tudo para não ter que andar de ônibus. Táxi? Nem em delírios! Dizer que Felisberto era um homem econômico seria puro eufemismo. O único gasto supérfluo ao qual ele se permitia era com a sua “fezinha”, que era sagrada. Investir na sorte poderia garantir o sonho do carro zero e o adeus ao coletivo lotado.
            Se para ele o transporte coletivo era o inferno o ponto de ônibus seria o purgatório. Iniciar o dia ouvindo “olha o vale, vale-transporteeee” ou os cobradores de vans que gritavam: “Vai pa’ rua?”, já era o suficiente para aflorar seus calundus. E se alguém lhe perguntasse as horas ou se o ônibus que fazia a linha tal já tinha passado, ele apenas ignoraria pra não se contrariar mais, ainda teria que sobreviver ao empurra-empurra na hora de tomar o coletivo.
O ônibus ia sempre daquele jeito, passageiros carregados a vácuo e ele já entrava logo olhando os outros com desdém, se pudesse cobriria o corpo de espinhos para ninguém se encostar nem passar roçando nele. Parecia que todo mundo cheirava mal e já àquela hora era puro suor. E quanto mais cheio estava o veículo mais o motorista parava para pegar passageiros.  Raramente descia um filho de Deus e era ouvir: “Abre o fundo motô!” Apesar do asco que lhe causava esse coloquialismo, ele até se animava, acreditando que teria algum alívio. Mas, que nada!  Era aquele inferno! A mosca da música de Raul Seixas, “Você mata uma e vem outra em seu lugar”. Felisberto gastava as comparações: “parece uma lata de sardinha”, “isso é um navio negreiro” ou “é um carro de bois” (quando o motorista pisava bruscamente no freio).
...E chegando mais gente. “Arrasta esse buzu, motô!” – gritava alguém na maior algazarra.
            Felisberto, em pé, suava por cada orifício e nem podia vacilar em pegar o lenço para enxugar o rosto, se soltasse a barra de ferro uma outra mão rapidamente tomaria sua vaga, sem chances de retorno. Praguejava em pensamentos, xingava a mãe, a irmã, a madrinha ou qualquer parentesco feminino do cobrador e do motorista.  E para romper a monotonia um estudante de pré-vestibular soltou uma piadinha:
            -Ô, motorista? Você não estudou que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço?
            E o motorista, sem perder a piada respondeu rindo:
            -Já ouviu falar em milagre? Pois é, aqui cabem dois, três, quatro no mesmo espaço, é que nem coração de mãe.
            Dessa vez, Felisberto não agüentou o deboche, resmungou entre dentes:
            - Só se for da sua mãe, seu filho da puta! – mas, falou tão baixo que nem foi ouvido.
            A coluna lhe doía até o cóccix, deu uma olhada ao redor, era início de mês, o ônibus cheio de idosos que iam receber a aposentadoria. “Diabo desses velhos!” – dizia para si, odiando o fato de haver tantos lugares ocupados por idosos.
            Percebeu ao seu lado um menino de uns oito anos sentado junto da mãe. Olhou novamente com aquele rabo-de-olho, fuzilando o menino e a mãe. Esta por sua vez, entendeu a mensagem muda e puxou o filho para o seu colo dizendo-lhe:
            -Vem, filho, dê lugar a esse senhor idoso – enquanto olhava de relance para a nuvem acinzentada que cobria a cabeça semi-calva de Felisberto.
Ele prontamente aceitou o lugar sem ao menos agradecer, com a desculpa de que o comentário o havia ofendido. “Idoso? Era só o que faltava!” – Indignou-se.
            A medida que diminuía a distância para o trabalho seu mau-humor aumentava. “Ainda compro um carro!” – pensou verificando as horas, estava quase atrasado como toda segunda-feira. Ia entrar na empresa como um raio, passar o cartão e subir as escadas de ferro num impulso só.
Porém, esta segunda-feira não seria a de um “quase atraso”. O ônibus seguia pela Avenida João Durval quando de uma rua transversal, partia um carro na direção do ônibus. Bateu levemente de lado, sem prejuízos para o coletivo, já o motorista do carro perdeu o controle e se chocou de cheio contra um muro.
            O ônibus inteiro assistiu ao acidente, com a boca cheia d’água, aquela ânsia humana de ver a desgraça alheia e contemplar a carnificina. Sedentos por não perder nenhum detalhe, espremiam os passageiros que estavam do lado que dava vista privilegiada ao quadro lá de fora.
            - Você viu, menina? Estraçalhou o carro, imagine como não deve tá o coitado... – lamentava uma.
            - Misericórdia! – exclamava outra senhora fazendo o sinal da cruz.
            O zunzunzum continuava, enquanto olhos entre curiosos e piedosos espiavam pela janela. Felisberto, era uma exceção, não dava a mínima para o ocorrido, nem queria saber qual era a cor nem a marca do carro, ou se o motorista estava vivo ou morto.  “Antes ele do que eu”, seria um pensamento típico dele. E ainda mais rabugento, olhava o relógio a cada segundo, até que uma senhora obesa e de baixa estatura aproximou-se do seu assento pra também assistir a catástrofe. Os seios caindo sobre o braço de Felisberto, toda inclinada por cima dele, os olhos vidrados à janela. Felisberto explodiu:
            - Dá pra senhora tirar as tetas do meu braço?
            A pobre dona, encolhendo o busto avantajado, envergonhada e humilhada, afastou-se meio chorosa. Alguns estudantes riram e as pessoas de mais idade menearam a cabeça em desaprovação.
            “Gorda ocupa muito espaço, deveria pagar duas ou mais passagens. Ou nem deveria pegar ônibus.” – Pensou ele e dessa vez quase deu um riso sarcástico, sem se importar com a cena lá fora.
            Após prestar apoio ao acidentado, chamando a ambulância, o motorista volta ao volante aflito.
            Felisberto agonizava no assento, atrasos não eram tolerados pelo novo gerente geral, fosse qual fosse o motivo. Ia ser demissão na certa, ele já estava sob aviso...
Aqueles egoístas de lá do trabalho nunca davam carona. Sua sina era pegar o ônibus, era enfrentar o engarrafamento, encarar as gordas e aquele aperto insuportável do coletivo.
            Meia hora depois do acidente, enfim, Felisberto descia do seu “Trem Fantasma”. Após tantas torturas, exclamava internamente: “Ainda compro um carro!”.
            Adentrou os portões da empresa feito um demônio da Tasmânia. Ao subir as escadas, uma recepção diferente da esperada, as moças do telemarketing enxugando as lágrimas timidamente pelo corredor, uns sussurros, e alguém pergunta:
            -Já avisaram à esposa dele?
            -Estamos providenciando tudo. Gonçalves desceu pra pegar o carro, vai dar a notícia pessoalmente à esposa e o Rubens já entrou em contato com a funerária e seguiu para o hospital.
            - Que houve pessoal? – entrou Felisberto no círculo de lamentos...
            E o encarregado do setor de compras dando-lhe uns tapinhas nas costas explicou:
            - Nosso gerente geral sofreu um acidente de carro e... já chegou morto ao hospital, traumatismo craniano. Pois é companheiro... é fogo, heim! Perdemos um grande líder. Apesar do pouco tempo aqui, já era admirado por todos – e deu outro tapinha de leve com o semblante meio hesitante como quem tinha algo mais a dizer.
            Felisberto sentiu um quê de alívio interior, o fato de ter sido o seu chefe a vítima do acidente salvara sua pele. O atraso que poderia custar-lhe uma demissão estava perdoado. Deu um abraço no colega escondendo no paletó do amigo um leve ar de satisfação. O outro, chamou-o a parte, para uma revelação em um tom de voz ainda mais baixo:
- Olha amigo, eu nem sei se deveria te contar isso agora... Mas, ontem, eu estive na sala dele, o homem me contou em segredo... que ia te promover...
            Felisberto mudou de novo a fisionomia, seu rosto, sem nenhum vestígio de tristeza solidária, ficara rígido. Foi-se a oportunidade de ter um aumento, melhorar de vida, comprar o tão almejado carro. Meio confuso com tamanha notícia, seus sentimentos eram um mosaico de ira e frustração. Apenas pensava na sua oportunidade de subir de cargo... Atropelada por um ônibus?!
            Não houve expediente na empresa, os funcionários foram dispensados em luto ao gerente.
            Em casa, Felisberto entrou cabisbaixo, a chance perdida, era tão difícil ser reconhecido naquela empresa, tantos anos trabalhando no controle de qualidade e nem carro tinha. Quando alguém, enfim, se dá conta do seu esforço, a morte, num golpe fatal, arranca-lhe a vida e de Felisberto, a glória. “Perdemos um grande líder”, repetiu para si mesmo as palavras do colega.  Sua esposa, de súbito, interrompe seu devaneio:
            -Beto? Chegando cedo pro almoço, que foi?... – ao que ele não responde, vira para a mulher fazendo muxoxo, sem mirar no rosto, apenas passa os olhos naquele corpo tão maltratado pelo tempo, enquanto pensa: “Se ao menos eu tivesse uma amante! É...Sem carro tudo é mais difícil”.
            A mulher, indiferente ao amuo do marido, continua o papo, metralhando as queixas sobre as contas de casa que não foram pagas, o gás que estava por acabar, e em seguida, mudando de assunto, acrescenta:
            -Ah, rapaz, e não é que teu chefe teve aqui de carro logo depois que tu saiu! Perdeu uma carona da boa hoje, né?

7 de junio de 2011

Νύξ

 William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - La Nuit (1883).

Νύξ, deusa enlutada e sensual escondendo suas curvas delicadas e assaz tentadoras.  
Νύξ, a quem tememos e depositamos nossos desejos mais indecúbitos.  
Νύξ, uma rainha, uma fera, um fantasma a penetrar nossas carnes e cernes.  
Νύξ, pétalo de palabras escorrendo pelos lábios desatentos do ébrio sentidor de palavras.

 Autor: Angelo Riccell Piovischini

5 de junio de 2011

Um caminhante

Os pés vão pisando a areia molhada,
As lágrimas secam no rosto,
E o mar apaga as marcas.

Apreciando a bruma,
Vai passando passo a passo...

E o caminhar se faz mais suave,
E o pensar mais apurado,

E então o caminhante se revira cansado
No consolo do travesseiro,
Morada dos sonhos
e presságios.

Ivana, 24.04.11

3 de junio de 2011

Cada poeta com a sua droga

Baudelaire escrevia sob os efeitos
do haxixe ou do ópio...
Eu, sob os efeitos do açúcar
e da cafeína,
rabisco um poeminha óbvio.


Ivana, 02.06.11

Poema singelo para Nix

Oh, Noite, deusa viúva!
Colecionaste as solidões
dos astros no teu véu
e dos olhos, nesta rua.

Ivana Oliveira, 02.06.11