Tinha-se armado tremenda agitação ao
redor de não-sei-o-que-lá ... Tentei não bancar o curioso e passar direto para
casa. Devia ser algum bicho morto - o ser humano tem necessidade de carnificina
– teria opinado o meu pai, um ateu
convicto, descrente até da própria raça humana. Mas tudo bem, sou um simples
mortal e daí? Fui ver o que era que
tinha provocado alvoroço.
Era
flash daqui, postagem nas redes sociais dali, cada um portando o seu smartphone, iphone. Me aproximei tentando encontrar espaço para ver o que
provocava tamanha confusão no jardim do condomínio. As crianças gritavam
extasiadas. Uma senhora disse muito emocionada: Fazia muitos anos que não via
um desses! E saiu com olhar nostálgico dando a mão ao netinho. E eu continuava
tentando ver a “coisa”, que teria acreditado ser um alienígena, não fosse o
comentário da avozinha que passara por mim.
Fui
pedindo licença e cheguei no centro da roda, para minha surpresa e do caro leitor, pasme! Era um sapo! Um sapo
de cor fluorescente, olhos exóticos desses que aparecem na National Geographic? Que nada!... Um sapo comum e corrente desses
que nos assustam quando pulam perto dos nossos pés! Nada que, ao olhos
acostumados, merecesse tuitagens e
fotos em instagram e facebook. Um sapo, minha gente! Há bicho
mais desengonçado, mas insigne que um sapo? Ora bolas! Era como fotografar um
pardal. Pensei com meus botões...
Fiquei
ali mais para observar a reação das pessoas que para ver o anfíbio... e os flashs não paravam. Eu, surpreso! Mas
como pode!? Nessa hora fiz uma viagem no tempo e no espaço, voltei à casa da
bisa... Aquela casa simples com roseiras de rosas brancas e sapos no quintal.
Sapo ali não causava nenhuma comoção. Era cada sapo cururu de dar medo! A bisa avisava: Não deixa a porta aberta ou vai
entrar sapo. Ninguém era besta de desobedecer. Rezava a lenda que se um sapo
daquele cismasse com quem mexeu com ele, fazia um xixi ninja que ia direto pro
olho e a vítima ficaria cega na horinha!
Na
rua, os moleques não perdoavam: Era sal, pedra, estilingue e outras formas de
torturar o pobre sapo. O incômodo sapo, o insigne sapo, o inútil sapo!
Agora
todos os holofotes para a nossa celebridade: O senhor Sapo. Comecei a perceber
pelos comentários que aquelas crianças acompanhadas de suas mães e avó jamais
tinham visto um sapo ao vivo. Era uma figura dos contos de Andersen e Grimm, um
bicho quase mitológico. Quem imaginaria! Aquele assombro todo não era à toa. Por
pouco não ficaram sem infância...
Dizem que eles entraram em extinção,
comentou uma senhora. Outro culpou o buraco na camada de ozônio... Outra falou
que se usam os animais para fazer bolsas e sapatos (Existem bolsas de couro de
sapo? Não sabia!). A conversa se prolongou sobre uma possível extinção dos
sapos. Até que sem ter estatísticas e nenhum dado fornecido pela mídia, a
conversa morreu ali... Cada um já tinha tirado sua foto, era hora de retornar
aos afazeres domésticos e deixar a celebridade, o senhor Sapo, tirar sua soneca
de primavera.
Cada vizinho foi se despedindo e
saindo aos poucos. Um disse que precisava ir ao supermercado comprar um spray,
os mosquitos não o deixavam dormir, outra senhora se queixou das malditas
mariposinhas que entravam no guarda-roupa. São uma praga! – Disse chateada. E
cada um marchou em combate.
O sapo, após posar para tantas
fotos, dormia tranquilo sobre os louros da glória!
Ivana Oliveira, Montevidéu,
02/11/15.